quinta-feira, 31 de março de 2011

Apenas mais uma ferida.


Depois de tantas manhãs silenciosas, tardes de expectativas e noites frustradas, havia desistido. Ali, em meio a cobertores e uma caneca de café, enxergava sua vida decepcionada. Nada fora como o planejado, faltavam motivos e sobravam lágrimas. As lembranças mostraram à ela que a vida podia ser mais amarga do que seu café. Olhava para a parede branca como se estivesse no cinema, olhando a grande tela enquanto aguardava o filme começar. Esperava que a campainha tocasse e fosse ele, dizendo que voltou para jamais partir. Ela não traria condições, só pediria para ser amada. Sem pedidos de desculpas ou explicações, apenas a promessa da permanência - também não ousava pedir que fosse para sempre, só queria que avisasse a próxima vez que partiria. Sentiu-se um fracasso, seu orgulho a despedaçava por inteiro, reprimindo-a por continuar ali, sentada e sofrendo - esperando por alguém que ainda não descobriu o significado da palavra dor, mas a ensinou muito bem todas as formas da palavra. Desistiu de esperar pelo impossível, e olhou para a janela. A cidade brilhava apesar da chuva, ainda ouviam-se risos nos bares e calçadas de pessoas festejando de um jeito que ela nunca fizera. Ela queria ser uma dessas mulheres descomplicadas que apenas se enfeitavam e saíam desfilando com seus sorrisos cheios de brilhos labiais. Mas não podia, não conseguia. Se contentou em continuar a ser uma observadora de vidas, porque a sua própria à machucava com essa maldita mania de sentir demais.
(BoaNoiteCinderela, Gabriela S. Santarosa)

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